Rua do Brasil, Apartado 3069
3001-401 Coimbra
Car@s
Catequist@s
Sua
referência Nossa Referência
2.7
de 2012-set-25
Assunto: Ano da Fé
Como todos sabemos, o Papa convocou um
“Ano da Fé” para o próximo ano pastoral alargado, a começar no dia 11 de
Outubro de 2012 (50.º aniversário da Abertura do Concílio Vaticano II e o 20.º
aniversário da publicação do Catecismo da Igreja Católica) e a terminar no dia
24 de Novembro de 2013, na Solenidade de Cristo Rei.
Na proclamação deste Ano da Fé, Bento
XVI deixa bem claro, na Carta Apostólica Porta
Fidei, que, mais do que a dupla comemoração, o que está em causa é “redescobrir o caminho da fé para
fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do
encontro com Cristo” (n.º 2) como o valor estruturante da vida das pessoas e das
sociedades, num tempo em que cresce sociologicamente o número dos que dizem
“não acreditar” e se multiplicam subprodutos religiosos, como seitas, adivinhações
e outras formas esotéricas de se relacionar com o mistério da vida. A ideia que
verdadeiramente está subjacente a este Ano da Fé é a da “nova Evangelização”,
que aliás serve de tema ao Sínodo dos Bispos convocado igualmente para outubro
de 2012: “A nova evangelização para a transmissão da fé cristã”, como lembra Bento XVI logo no mesmíssimo
parágrafo em que proclama este Ano da Fé.
A Comissão Diocesana Justiça e Paz
(CDJP) de Coimbra – como organismo da Igreja – adere à celebração deste Ano da
Fé e espera vivamente que todos os cristãos e estruturas eclesiais se empenhem
ativamente na boa consecução do mesmo. Ao mesmo tempo, como contributo próprio,
a partir daquilo que lhe é específico como missão que lhe foi confiada pela
própria Igreja, a CDJP gostaria de sublinhar e propor à reflexão de todos os
cristãos três aspetos concernentes à fé e nem sempre plenamente
conscientizados:
a)
A fé tem uma dimensão social inequívoca: “A fé,
precisamente porque é um ato da liberdade, exige também assumir a responsabilidade
social daquilo que se acredita”, diz Bento XVI (n.º 10). Desafiamos todos os
promotores de iniciativas integradas na celebração do Ano da Fé a não
esquecerem, antes promoverem, ”com o ardor dos santos”, a consciencialização
desta dimensão social da fé, respondendo convictamente ao desafio que João
Paulo II nos deixou: “Fiéis à Verdade,
irmãos e irmãs, continuemos a participação na realeza de Cristo, servindo como
Ele, Senhor e Mestre, fez e ensinou. Este é o caminho: cristãos no aconchego da
intimidade pessoal; cristãos no interior do lar, como esposos, pais e mães e
filhos, em “igreja doméstica”; cristãos na rua, como homens e mulheres
situados; cristãos na vida em comunidade, no trabalho, nos encontros
profissionais e empresariais, no grupo, no sindicato, no divertimento, no
lazer, etc.; cristãos na sociedade, ocupando cargos elevados ou prestando
serviços humildes; cristãos na partilha da sorte dos irmãos menos favorecidos;
cristãos na participação social e política; enfim, cristãos sempre, na presença
e glorificação de Deus, Senhor da vida e da história” (Sé de Lisboa; 1982).
b)
Tal responsabilidade social encontra, no nosso tempo, a
sua corporização teórica na Doutrina Social da Igreja, que é, precisamente, “a
formulação acurada dos resultados da reflexão atenta sobre as complexas
realidades da existência do homem, na sociedade e no contexto internacional, à
luz da fé e da tradição eclesial (para) orientar o comportamento cristão”
[sublinhado nosso] (SRS 41). Ora “a
fé sem obras é morta”, recorda ainda Bento XVI, citando a Carta de Santiago.
Mas à fé não são suficientes quaisquer obras e de quaisquer modos. Ela precisa
de se traduzir, em cada época, nos “princípios de
reflexão, normas para julgar e diretrizes para a ação” fornecidos pela doutrina
social da Igreja (OA 4). Só com esta fundamentação as obras podem estar
ao serviço da fé no plano da sociedade e podem tornar viva a fé no meio das
complexas realidades da existência do homem. Não é possível desvincular – sem
desvirtuamento de uma e de outra – a doutrinação da fé do estudo da Doutrina
Social da Igreja.
c) A
fé que procuramos viver e aprofundar e que propomos – na simplicidade da
partilha fraterna do melhor que temos – aos nossos concidadãos e concidadãs,
nasce da evangelização. Mas, como proclama João Paulo II, “para a Igreja, ensinar e difundir a
doutrina social pertence à sua missão evangelizadora e faz parte essencial da
mensagem cristã, porque essa doutrina propõe as suas consequências diretas na
vida da sociedade e enquadra o trabalho diário e as lutas pela justiça no
testemunho de Cristo Salvador” (CA 5). Ora a verdadeira evangelização,
lembrava Paulo VI, não é a aplicação de “um verniz superficial”, mas consiste
em “atingir” e “modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os
valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes
inspiradoras e os modelos de vida da humanidade”. (cfr. EN 19-20). Uma vez
mais, a fidelidade à própria intenção de Bento XVI ao proclamar o Ano da Fé
como um ano para um novo dinamismo evangelizador exige uma atenção redobrada
aos “critérios”, aos “valores”, aos “interesses”, às “linhas de pensamento”, às
“fontes inspiradoras”, aos “modelos” propostos pela própria Doutrina Social da
Igreja, pois nela se sintetiza a “reflexão acurada” da alternativa que, à luz
do Evangelho, a Igreja tem para propor à sociedade.
Finalmente, lembramos que a Comissão
Nacional Justiça e Paz publicou um conjunto de 25 fichas sobre outros tantos
temas de DSI reunidas no livro “Em nome de Jesus Cristo” (editado pelas
Paulinas), que poderão servir de texto de apoio. Mas o melhor resumo oficial,
de autoria do Conselho Pontifício Justiça e Paz, é o Compêndio de Doutrina
Social da Igreja, que pode ser lido na sua versão integral no sítio do Vaticano
(www.vatican.va em Cúria Romana
– Conselho Pontifício “Justiça e Paz”). Neste sítio também se encontram os
documentos dos Papas e das Congregações ou Comissões.
Amig@s, vós sois os grandes educadores
da fé! Na proximidade do início deste Ano da Fé, aceitai esta nossa carta, se
no-lo permitis, antes de mais como reconhecimento muito sentido dessa missão
que vos está confiada; depois, como gesto fraterno de comunhão na edificação do
único bem que tudo o mais nos traz por acréscimo: o Reino de Deus.
Comissão Diocesana Justiça e Paz"
Sem comentários:
Enviar um comentário